16 maio 2009

Brisa e rajada




Ninguém nota que falta luz quando se está enroscado no corpo do outro, mãos e bocas atarefadas em prender, sugar e morder a maior superfície disponível no menor tempo possível. Faltou luz, sim. O ventilador parou, mas sua brisa, ali, seria inútil.

Daí que eles permaneceram grudados um no outro enquanto o calor arrefecia. Literalmente grudados, pois o suor colava a pele dos ventres, amantes siameses ofegando a um só ritmo.

A luz voltou, mas os olhos não se deram conta, pois a lâmpada ficou apagada desde antes. Mas o resto dos corpos acusou um calafrio quando uma brisa tênue varreu a cama.

Um bisturi invisível descolou as peles dos ventres. Cada corpo entregue a seu frio respirava agora lentamente. O que foi brisa, agora é rajada. Os corpos enroscam-se novamente em busca de calor.

Ronaldo Monte
Clube do Conto, 16.05.2009

Imagem obtida em theurbanearth.wordpress.com

2 comentários:

Only feelings disse...

Nunca havia lido expressão mais auto-explicativa: " mãos e bocas atarefadas em prender, sugar e morder a maior superfície disponível no menor tempo possível"
Excelente como sempre....

Thiago Ribeiro disse...

bonito, suave, delicado e bonito!