No final de uma oficina de leitura, um rapaz jogou um pedaço de papel no chão e pedi para que o apanhasse e botasse na lata do lixo. Fiquei surpreso com a arrogância da resposta: jogando este papel no chão, eu estou dando emprego a muita gente.
É com este mesmo tipo de pensamento que as pessoas jogam suas latinhas de cerveja pela janela do carro, pontas de cigarro acesas ao largo das estradas, potes usados de iogurte pelas janelas dos apartamentos e deixam montanhas de lixo nos parques e nas praias.
Passei muito tempo tentando entender como um adolescente pobre e mestiço chega a reproduzir uma ideologia típica de uma classe antagônica à sua, pois são justamente os trabalhadores pobres e mestiços que limpam a sujeira que uma minoria abastada espalha pelo mundo desde tempos imemoriais.
Entre os que sujam e os que limpam, ele já escolheu o seu lugar. Ficando do lado dos que sujam, ele pode se imaginar rico, poderoso, sem qualquer obrigação de prestar contas a ninguém dos seus atos de vandalismo. É isto o que ele quer ser quando crescer. É isso o que ele já pensa que é, em sua pouca idade. O que ele não sabe, é que não tem lugar para ele no lado dos que sujam. Todas as vagas já estão garantidas para os filhos dos sujões de hoje. Queira ou não, o seu lugar já está reservado no lado dos que limpam. E não apenas limpam, mas que trabalham no subterrâneo para fabricar, transportar e vender os produtos com os quais os outros sujarão a superfície do mundo.
Na versão pós-moderna da dialética do senhor e do escravo, não há lugar para a esperança de que o escravo tome consciência do valor do seu trabalho. Consequentemente, o senhor também não se libertará da sua estagnação que se daria ao acompanhar a tomada de consciência do escravo.
Ambos, escravo e senhor, estão soldados em um projeto de sujar e exaurir o mundo. O que nos torna a todos, enfim, servos de um sistema louco de autodestruição.
É com este mesmo tipo de pensamento que as pessoas jogam suas latinhas de cerveja pela janela do carro, pontas de cigarro acesas ao largo das estradas, potes usados de iogurte pelas janelas dos apartamentos e deixam montanhas de lixo nos parques e nas praias.
Passei muito tempo tentando entender como um adolescente pobre e mestiço chega a reproduzir uma ideologia típica de uma classe antagônica à sua, pois são justamente os trabalhadores pobres e mestiços que limpam a sujeira que uma minoria abastada espalha pelo mundo desde tempos imemoriais.
Entre os que sujam e os que limpam, ele já escolheu o seu lugar. Ficando do lado dos que sujam, ele pode se imaginar rico, poderoso, sem qualquer obrigação de prestar contas a ninguém dos seus atos de vandalismo. É isto o que ele quer ser quando crescer. É isso o que ele já pensa que é, em sua pouca idade. O que ele não sabe, é que não tem lugar para ele no lado dos que sujam. Todas as vagas já estão garantidas para os filhos dos sujões de hoje. Queira ou não, o seu lugar já está reservado no lado dos que limpam. E não apenas limpam, mas que trabalham no subterrâneo para fabricar, transportar e vender os produtos com os quais os outros sujarão a superfície do mundo.
Na versão pós-moderna da dialética do senhor e do escravo, não há lugar para a esperança de que o escravo tome consciência do valor do seu trabalho. Consequentemente, o senhor também não se libertará da sua estagnação que se daria ao acompanhar a tomada de consciência do escravo.
Ambos, escravo e senhor, estão soldados em um projeto de sujar e exaurir o mundo. O que nos torna a todos, enfim, servos de um sistema louco de autodestruição.
Imagem obtida em www.vivercidades.org.br
2 comentários:
Ronaldo,
Que beleza de texto! A sensibilidade transborda em sua alma de poeta. Que bom que você existe. O mundo seria mais triste sem você.
Que belíssimo texto.
É uma situação preocupante, que me incomoda diariamente. É incrível como você consegue extrair beleza daí e aumentar minha melancolia.
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