20 abril 2007

O fim das coisas







Todas as coisas terminam. Uma flor termina quando cede seu lugar ao fruto ou quando deixa de enfeitar a sala. Um brinquedo termina quando se quebra ou deixa de encantar seu dono. As ferramentas terminam por excesso de uso, pelo uso indevido ou por uso nenhum.
Os animais também terminam. Uns, de forma violenta, vão servir de repasto aos homens, dentre outros animais. Outros terminam quando já não servem mais aos seus instintos. Todas as coisas, todos os bichos um dia encontram seu fim.
Só o homem não termina porque não tem fim aquilo que o faz homem: o seu desejo. Mesmo às portas da morte, o desejo ainda está lá, querendo evitar que se morra, ou querendo que se morra bem.
Eis uma diferença entre os homens e as coisas. Todas as coisas terminam. O homem morre, mas morre inacabado. Por isso somos tristes, melancólicos. Porque vemos acabar as coisas que nos constituem. As casas em que um dia moramos, as cidades em que um tempo vivemos, as roupas que muitas vezes vestimos, os objetos que um dia fizeram parte do nosso corpo.
A isto estamos fadados: assistir ao fim das coisas. Invejar o fim das coisas que findam sem a angústia com que caminhamos para a morte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonito Rona. O texto, linda a escolha das imagens todas, o teu blog. Vou ficar vindo aqui. Grande abraço, Simone

- Lui - disse...

Vi seu link no espaço da Casti (Teia de Palavras). Que bom que vim espiar! Gostei demais. É pena ter de voltar agora ao trabalho e não poder ficar aqui, apreciando mais detidamente cada texto.

Um abraço.