13 fevereiro 2013

Nossa Senhora dos Prazeres




No meio de tanto incentivo ao sofrimento mundano para a salvação da alma, me chama a atenção a existência de uma Nossa Senhora dos Prazeres dentre as inúmeras denominações da Virgem pela igreja Católica. Me interessei pela história e fiquei sabendo (por São Google, claro), que em Portugal, nos idos de 1590, uma imagem de Maria apareceu  sobre uma fonte na quinta dos condes de Alcântara. Quando a Santa começou a fazer milagres, os proprietários da fonte levaram a imagem para dentro de casa. Quem já viu pobre ter direito a prazeres em fontes e terras de ricos? Mas logo a imagem desapareceu para ser encontrada mais tarde junto a um poço por uma menina sedenta. Foi quando a Madona apareceu para ela e disse que se construísse uma igreja ali em devoção a Nossa Senhora dos Prazeres, que viria também a ser conhecida por Nossa Senhora das Sete Alegrias.

Não tenho o menor interesse pela classificação que os franciscanos deram aos prazeres da mãe de Jesus, todos eles ligados à sua imagem imaculada, como se ela não tivesse outros filhos além do Crucificado e ido a outras festas além das bodas de Caná. A mim me basta que exista uma Santa protetora dos prazeres e das alegrias.

Mudando um pouco o rumo da prosa, sempre me diverti com certos compositores que se apressam em louvar o “princípio do prazer” quando querem dar um certo ar de erudição á pobreza dos seus versos. O conceito freudiano de prazer é decepcionante: quer dizer que o aparelho psíquico é regido pelo evitamento ou evacuação da tensão quando esta se torna desagradável. O melhor exemplo disto é aquela sensação maravilhosa quando encontramos um banheiro depois de algumas horas de viagem. Nada poético, portanto, mas bastante prazeroso.

Deixemos, pois, de lado, a piedade católica e a falta de sal da psicanálise. Cuidemos de nossos prazeres e alegrias cotidianos que podem ser recolhidos nos momentos mais simples da contemplação da natureza, das obras de arte, do convívio com nossos semelhantes e de intimidade com a pessoa amada. E vivamos cada um desses momentos sem culpa ou remorso, com a atenuante de que até a mais persecutória das instituições criou uma protetora benevolente que sabe muito bem o valor dos prazeres e das alegrias.  

Um comentário:

Angela disse...

Bem, adorei conhecer esta Nossa Senhora! Esta até eu deixo ser Minha Senhora, perdão Nossa!

Se existe aquela escultura escandalosa do extase de Santa Tereza ameaçada com a flexa pelo anjinho cupido, imagina como foi o de Maria ao receber o anjão da anunciação?

Muito divertida e esperançosa esta crônica.