Chega a ser divertido o esforço das pessoas para definir o que seja felicidade. Antigamente, felicidade era um conceito vago, sua definição dependia das aspirações mais ou menos espirituais de cada um. Hoje a coisa ficou fácil, porque a felicidade passou a ser materializada pelos promotores de marketing. Pode ser encontrada num artigo de consumo disponível na prateleira de qualquer supermercado, nas revendas de automóveis ou no balcão das agências de viagem.
De tanto penar à procura de uma noção de felicidade que me deixasse feliz, resolvi aderir ao materialismo individualista pós-moderno e decidi: felicidade é o resultado do bom funcionamento das coisas.
Não existe coisa pior do que aqueles períodos em que todas as coisas da sua casa começam a deixar de funcionar. Começa pelas lâmpadas. Teve uma vez que cinco lâmpadas, nos mais diversos cômodos daqui de casa, deixaram de acender. Logo em seguida, inevitavelmente, quebra o liquidificador. Depois pode vir o ferro elétrico ou a televisão da sala. Daí em diante a coisa entra em progressão geométrica, podendo terminar com um vírus que corrompe todos os arquivos do seu computador, inclusive aquele que você deixou para fazer o back-up no final da tarde.
Tem uma coisa que aprendi a respeitar: o inferno astral. Isso existe, sim. E não consiste em nada de esotérico, espiritual. O inferno astral consiste exatamente nesse desmantelamento generalizado dos objetos domésticos. O que justifica a expressão: “minha casa está um inferno”.
Daí, espero ter justificado a minha definição de felicidade: É aquele estado de beatitude quando você entre em casa e as luzes se acendem uma a uma. O liquidificador prepara sua vitamina e você pode se jogar no sofá da sala para ver a mais nova besteira das oito. E depois poder ligar seu computador e ver que todos os seus arquivos estão ali, prontos para serem impressos. E a impressora está com tinta e funcionando. Pronto. Você está imerso no seu oásis particular de felicidade. Até que a próxima lâmpada deixe de acender.
3 comentários:
Como eu gostaria de conhecer o conceito de felicidade de quem nem tem casa, nem casa com luz elétrica... sem falar do resto!
Um ótimo texto, mas eu
gostaria de conhecer o conceito de felicidade de quem nem tem casa, nem casa com luz elétrica... sem falar do resto!
Creio, Ronaldo, que a felicidade continua sendo conceito abstrato a ser "usado" de acordo com a vontade eou a necessidade de cada um. Afinal, quando seu texto, leve, livre e solto, fica "preso" no infortúnio dos outros, não há felicidade que resista. Que as luzes se acendam. Abraços, Pedro.
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