23 agosto 2011

Crueldade



Quando a professora foi morar no bairro de Manaíra, sua rua era feita de casas, todas com quintal e jardim onde pessoas, pássaros e bichos viviam em paz. Os sagüis saíam da mata próxima e vinham comer as frutas maduras dos quintais.
Com o tempo, as casas foram cedendo terreno aos espigões que alimentam a fome das imobiliárias. A casa da professora se tornou um ponto de resistência ao furor especulativo, cercada de paredões de concreto por todos os lados. Como conseqüência natural, os bichos que antes perambulavam pelos quintais passaram a se concentrar no oasis do quintal da professora. Pássaros, gatos e sagüis fizeram dali o último refúgio contra a devastação do seu espaço vital.
Mas a maldade dos homens não se contenta com o resultado indireto de seus desvarios. Os vizinhos da professora se sentiram incomodados com o cuidado que ela dispensava aos animais. E começaram a dar fim aos bichos com o uso de venenos.
Quando a professora demonstrou sua indignação, a violência dos vizinhos evoluiu para a mais pura crueldade. Passaram a executar rituais macabros em que os animais eram torturados e mortos sob a algazarra excitada dos criminosos. E junto aos gritos de dor dos animais, eles gritavam o nome da professora, para deixar bem claro que era a ela que eles gostariam de torturar e matar.
A professora que ama os gatos e os sagüis, ama também os homens e as mulheres. Seu espírito é forjado na luta política. Sua voz sempre foi e será ouvida em defesa de qualquer criatura em sofrimento. Os seus vizinhos alucinados fazem parte do velho e podre grupo de poderosos que não se furtam em torturar qualquer criatura - homem, gato ou sagüi - que interfira na sua acumulação insaciável de poder e de gozo.


2 comentários:

Angela disse...

o que há com este mundo? é tanta doença... assusta.

Cartas de Julieta disse...

Triste país esse em que as pessoas não respeitam a casa de alguém como uma pátria de intimidades.

Falta respeito, sobra crueldade e, nós, coramos de vergonha em verde e amarelo. Lamentável!