Ninguém manda na memória. E quanto mais se insiste em esquecer, com mais força volta a coisa que se quer esquecida. Por isso é que não foi possível deixar passar em branco o aniversário do golpe militar de 64.
A data inaugural de todo o tempo sombrio em que a liberdade nos foi cerceada bem que poderia passar despercebida, se não fosse um certo deputado federal vociferar saudosamente na televisão o nome de todos os militares que mandaram neste País durante 21 anos.
É claro que este homem só está no poder porque foi eleito por um número considerável de cidadãos. Pessoas que concordam com o seu pensamento truculento e retrógrado. Gente que apóia a violação das liberdades individuais, o banimento do direito à associação, as prisões sem mandato judicial, a tortura como método de interrogatório e as execuções sumárias como forma de se livrar dos inimigos.
Vivi a ditadura como um cidadão comum, participando de atos públicos e aproveitando os espaços possíveis para divulgação das idéias que achava e acho mais adequadas a uma vida digna para todos. Não tenho nenhum ato de heroísmo no currículo. Mas tenho na memória uma dose muito forte de medo. Um medo que fiz o possível para não transmitir aos meus filhos e do qual defendo minhas netas. Um medo que emanava de cada desconhecido que nos rondava. Medo de perder o emprego ou o curso por uma delação ou pela má vontade do chefe ou do diretor da faculdade.
É a memória deste medo que me faz, hoje, temer pessoas como o deputado saudoso e seus eleitores. Porque sei que os métodos brutais que eles defendem ainda existem e são aplicados nas celas escuras das delegacias e presídios, nas favelas e nos ermos deste País. São os restos das sombras do longo período de sombra que manchou a história deste País. E se não fizermos alguma coisa para eliminar estes restos, veremos uma grande sombra de iniqüidades se abater indiscriminadamente sobre todos nós.
Eu sei que as boas memórias nos trazem alegrias. Mas as memórias más nos trazem lucidez. Mesmo as memórias das sombras.
Imagem obtida em: http://www.moba.be/
3 comentários:
Ola Ronaldo Monte.
Desejaria conhece-lo pois estou tentando juntar alguns membros da família Monte.
Luiz Daniel Barboza Monte.
83 9982 7677
Orlando Monte da Costa Filho.
Irmão
Marcelo Monte Filho
Primo.
Peço que envie e-mail com seu endereço eletrônico ou telefones.
Um abraço.
Luiz Monte.
Engenheiro Civil.
48 anos.
Filho do alagoano Orlando Monte da Costa - Capela - Al.
E hoje, mesmo sem a ditadura assumida, são tantos os desmandos e a brutalidade autoritária que parece não nos livrarmos nunca deste passado. Mas, sempre acho que o medo transformado em aliado e experiência é a melhor forma de evoluir.
Só não gosto nem um pouco que, pela sensação óbvia do ridículo, tenham passado a data real do primeiro de abril para o 31 de março, o dia em que comemoro meu nascimento.
Ronaldo,
Triste é o homem que não cultiva as suas memórias, pois é a partir delas, que podemos traçar um novo caminho, fazer uma nova escolha.
Quem votou nesse cidadão deve estar incluído entre aqueles cegos que: vendo, não veem...
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