27 abril 2011

Como diz o ditado


Quando botou a baleadeira no bolso de trás das calças, ouviu sua mãe dizer: “boa romaria faz quem em sua casa está em paz”. Bateu a porta da casa e saiu.

“Cachorro que muito anda, apanha pau ou rabuge”, disse-lhe o pai que cuidava do jardim. Saiu sem fechar o portão.

Lembrou o que dizia sua avó: “junta-te aos bons e serás um deles, Junta-te aos maus e serás pior do que eles”. Juntou-se ao bando que o esperava na esquina. Ganharam o mundo em direção ao sítio de mangas.

“Quem com muitas pedras bole, uma lhe cai na cabeça”. Era a voz do tio que ouvia sempre quando acertava uma manga com a baleadeira.

“Mais vale uma pomba na mão do que duas voando”. Foi o que lhe veio à cabeça quando encheu cada bolso das calças com duas mangas espada.

Quando entrou em casa, seu pai garantiu que o matava se saísse com aquele bando de moleques novamente. Sua mãe disse que ele ia para o inferno se continuasse roubando mangas do sítio alheio. Sua irmã mais velha contou que não era apenas mangas que esses moleques roubavam. “Quem cala consente”, ouviu da velha empregada. E se trancou no banheiro.

Com a chegada da noite, os barulhos da casa voltaram ao normal. Ele deu uma carreira para o quarto e se escondeu na cama. "Quem não trabalha não come", falou a raiva do pai antes de mandar recolher a comida da mesa.

“Quem não arrisca, não petisca”, foi a última coisa que pensou antes de cair no sono, sem se importar com os fiapos de manga entre os dentes.

Um comentário:

Juliêta Barbosa disse...

Ronaldo,

Bons tempos aqueles em que o nosso caminhar era orientado pelos ditos dos nossos pais. E, que roubar mangas no quintal dos vizinhos, era o maior de todos os pecados que ousávamos cometer.

Ainda ouço o eco dessas frases dentro de mim. Elas continuam dando o norte no momento das minhas escolhas.

É uma pena que, hoje, não haja fiapos nem dentes, pois o sorriso da nossa juventude já não cabe em sua boca... Entristeceu. Vivemos novos tempos: há escassez de mangueiras, mas sobram fumaça e grades!