Uma amiga vivia insistindo para que eu entrasse no Facebook. De tanto ouvir suas loas às maravilhas de pertencer a essa rede social, cedi à tentação, mesmo sem saber o que queria dizer uma palavra supostamente tão fácil. “Livro de caras”, supus, e resolvi dar as caras por lá.
Logo de saída, a primeira surpresa. A minha amiga, uma das mais íntimas, veio pedir para ser minha amiga. Será que ela não estava segura da minha amizade? Ou seria a amizade no Facebook uma coisa muito séria, algo assim como uma irmandade secreta, uma maçonaria?
A primeira impressão evaporou à medida em que começou a chover pedidos de gente querendo ser meu amigo. Aí a ficha caiu e comecei a compreender que estava lidando com um outro conceito de amizade. Para ser amigo dessas pessoas, inclusive dos velhos amigos, basta clicar aceitando a amizade e pronto. Não precisa acontecer mais nada entre nós. Não ficamos sabendo onde essas pessoas moram, o que fazem, do que sofrem, a quem amam. Basta ver suas caras sorridentes e ficar feliz com o número crescente de amigos que pingam diariamente na sua página.
Não me sinto bem com essa banalização do conceito de amizade. Na vida real, um amigo é um privilégio que não se obtém com um simples pedido eletrônico. A amizade é um tipo particular de relação amorosa que deve ser conquistada com esforço. Para ser meu amigo, por exemplo, é preciso uma certa dose de masoquismo. Eu sou chato, irônico e mal-humorado. É preciso ralar para ter acesso às minhas parcas qualidades. Tem uma crosta resistente a ser atravessada até atingir o núcleo da minha ternura. São pouquíssimos os que têm paciência para chegar lá.
Pode ser que um dia eu me acostume a ser chamado de amigo pelo pessoal do Facebook. Mas vou logo avisando: não esperem nunca que eu vá aparecer de repente em suas casas exigindo que me sirvam uma refeição com um vinho lá do fundo da adega. Isso é um privilégio que reservo para meus poucos e verdadeiros amigos.
5 comentários:
concordo em tudo. Até na repetição inconsciente do texto! :D
Esse texto descreve realmente titio Ronaldo que conheci a alguns atrás através da supervisão que tivemos: Eu (Isabella), Adriana e Filipe. Titio Ronaldo estamos lhe devendo, aliás Filipe, uma garrafa de cachaça do sertão da paraíba, daquelas que tem um caju dentro, rsrrsrsr, beijos, saudades.
Ronaldo,
acabei de ler seu texto. curiosamente, eu acompanho seu blog e assino o feed: recebo suas atualizações tão logo vc as publica.
Sem que vc saiba.
Mesmo sem ser sua amiga, recebo o que vc diz e o que vc pensa, na realidade, o que você escreve.
Sou sua leitora.
E, conforme parece ser seu desejo, não vou pedir para ser sua "amiga".
:-)
Um abraço e muito sucesso pra vc.
Sem amizade, é claro:-)
Meg, seu comentário não deixa de ser uma demonstração de amizade. Grato. Ronaldo.
"Eu sou chato, irônico e mal-humorado." Tudo mentira. Esqueceu de dizer que é mentiroso.
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