18 novembro 2010

O paletó de Mia Couto




Quem me conhece de perto, sabe que sou um invejoso incorrigível. Tenho inveja, principalmente, de quem escreve bem. Seria natural, portanto, que eu tivesse inveja do estilo de Mia Couto. Ou da devoção com que é tratado pelas mulheres.
Nada disso. O que mais quero ter do Mia Couto é um paletó que ele usou na sessão de autógrafos da Flip de 2006. Além do corte perfeito, era feito com um tecido leve com finas listras azuis sobre um fundo branco. Nada mais adequado para o clima quente e úmido de verão em Parati.
Saí da fila de autógrafos me roendo. Nada mais adequado para mim naquele momento do que andar cabisbaixo pelas ruas coloniais. Coisa que poderia ser natural, pois todos ali têm que andar de cabeça baixa para evitar tropeções nas pedras desalinhadas dos calçamentos centenários. Mas minha cabeça baixa tinha outro motivo: a inveja. E minha inveja tinha um objeto claro: o paletó de Mia Couto.
Desde então, minha vida virou um tormento. Vasculhei as lojas de roupa de todos os lugares por onde passei de 2006 para cá. Vasculhei a internet, pedi a ajuda de amigos... Nada. Parece que só fizeram um único exemplar do paletó, exclusivamente para o escritor de Moçambique. A intenção era clara. Eu poderia, com bastante esforço, chegar a escrever tão bem quanto o Mia Couto. Poderia até alcançar a devoção de algumas mulheres. Mas o paletó, aquele paletó, eu não o teria jamais.
Este fim de semana, Mia Couto estará em João Pessoa. Vai conversar com o seu vasto público no auditório da Estação Cabo Branco. Claro que eu vou estar lá. Mas não garanto nada do que possa acontecer com ele se estiver usando o meu paletó.

3 comentários:

Márcia Maia disse...

Só você mesmo, Rona!
Pena que eu não posso ir.
Beijo e beijo.

Angela disse...

que vc consiga este paletó, são meus votos.

Américo Neto disse...

Bom demais... Não quero nem ver o paletó pra não ser amaldiçoado tb!!