Quando penso em Mário Assad, a primeira imagem que me vem à lembrança é o seu ar de contentamento em nos mostrar a variedade dos pratos que ele mesmo preparava para servir aos amigos. Seus aniversários e os de Margarida eram concorridíssimos, mas não somente pela mesa farta. Era outra fartura que nos levava a sua casa. Era o seu jeito bonachão, sua forma de apertar os olhos, tomando gosto na fala que ia se espremendo até ser tomada pela farta gargalhada.
No trabalho, não era diferente. Trabalhar, para Mário Assad, era trabalhar muito. E muito bem. Não vou discorrer sobre seus títulos nem me alongar sobre seus méritos. Isso já foi dito por gente mais competente do que eu. Quero só lembrar que ele foi o pioneiro na implantação da internet na Paraíba, a partir da UFPB. E, para isso, trabalhou muito. Levou muito tempo para ser compreendido. Gastou muita saliva para ser ouvido. Mas sua paciência também era farta. E o tempo se encarregou de enfeitar com fios azuis os corredores dos departamentos da Universidade.
Passada a primeira semana da sua perda, a aceitação gradativa da sua falta obriga a memória a nos suprir daquilo que a sua presença nos servia. Além da mesa farta, Mário nos supria de alegria, nos contagiava de entusiasmo, prendendo nosso interesse ao discorrer sobre as coisas mais complicadas da física ou da informática. A contrapartida era se munir de tempo para escutá-lo. Pois ele, adivinhando nossa ignorância, caprichava nos detalhes, transbordava nos exemplos. Falava muito. E apaixonadamente. Se você deixasse, falava horas sobre os temas que dominava. E era bom ouvi-lo. Não só pelo que se aprendia, mas pelo que se curtia da sua fala cortada pela gradação que ia do sorriso, progredia para o riso, passava pela risada e explodia na gargalhada.
Mário nos deixou aos 58 anos de idade. Podemos dizer que foi uma vida breve, pelo muito que ainda podia nos dar. Mas temos todos a certeza de que foi uma vida farta, pelo muito que ofertou à sua mulher, a seus filhos e a seus amigos.
Um comentário:
Ronaldo,
sinto mais pelos que ficam e vão vendo os pratos da balança pendendo mais para um outro lado, que não se sabe onde.
Um abraço.
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