Duas vezes a morte manda notícias. O escritor João Ubaldo Ribeiro morreu na manhã da sexta-feira, 18 de julho de 2014. Na véspera, morreram 298 passageiros de um avião derrubado pela insanidade da guerra ucraniana.
A morte de João Ubaldo me deixa triste. Como todo brasileiro minimamente informado, tenho uma admiração invejosa pela sua obra e um carinho muito grande pela sua figura humana. Lamento o vazio que ele deixa em nosso mirrado meio cultural e me conforto por ainda ter alguns dos seus livros que ainda não li. Tenho ainda muito com o que me surpreender e deleitar (por falar nisso, quem surrupiou “Viva o povo brasileiro” de minha estante, faça a gentileza de devolver). A morte de João Ubaldo é uma coisa familiar. É natural que seus parentes e amigos chorem. Assim como é natural a consternação de todos nós, seus leitores.
A
derrubada do Boeing na Ucrânia me causa revolta. Ela é o resultado de um
mecanismo perverso de interesses econômicos, políticos e armamentistas que paira
muito acima da minha capacidade de entendimento. Atira-se num avião sem saber
da sua procedência, matando-se pessoas sem nenhum vínculo com um conflito que
em si já é difícil de compreender. Famílias inteiras, executivos apressados,
turistas pacatos e mais de cem cientistas que iriam participar de um congresso
sobre AIDS em Melbourne, na Austrália. E verdadeiramente me enoja a manipulação
política das partes envolvidas no conflito.
Posso acolher a morte do escritor, pois
ela faz parte daquilo que a vida nos reserva cedo ou tarde. Mas as mortes na
Ucrânia batem na trave do meu acolhimento. Uma, se acomoda calmamente à minha familiaridade.
As outras, me apavoram com seu excesso de brutalidade. Me custa crer que
pertençam ao mesmo espectro da minha humanidade.
Ilustração de Peu Teles.
Imagem obtida em varelanoticias.com.br
Um comentário:
A morte, em qualquer circunstância, me deixa triste, mas o silêncio da palavra, quando o poeta ainda tinha tanto a dizer... Essa, me leva junto! Bjs
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