Faz algum tempo que escrevi uma
crônica sobre a “Igreja Batista”, me referindo ao número de discípulos que
gravitam em torno da sabedoria e paciência de João Batista Brito. Sempre me
impressionou a capacidade do João em agregar as pessoas, deixá-las à vontade
para expressar suas idéias, respeitar a diversidade de opiniões, falar com
propriedade e sem empáfia sobre as coisas que lhe concernem. E dentre essas
coisas, a que mais lhe concerne é o cinema.
Por isso foi grande a minha
alegria em ver de novo a Igreja Batista reunida, desta vez lotando o auditório Linduarte
Noronha, da Funjope, para assistir ao filme que Mirabeau Dias fez sobre o nosso
JBB. De saída, o título é de fazer inveja a quem vive de escrever: “O homem que
vê no escuro”. Minha filha mais velha sugeriu que eu processasse o autor, pois
estava na cara que o título foi roubado de mim. Claro que concordei,
lisonjeado, e certo de que não conseguiria fazer coisa melhor.
Mesmo um pouco longo para um
documentário, o filme é conduzido com mão segura por Mirabeau que evitou o
cansaço das entrevistas com a intercalação de trechos dos filmes citados por
JBB. Foi divertido ver o tímido João, de jeans surrado e camisa quadriculada, no melhor estilo cow-boy, fazer a performance de um dos contos
tirado do seu livro “Um beijo é só um beijo”.
Sou um mau aluno de João, pois
demorei muito a aprender o que diabos era diegese, conceito que ele usa em
vestes caseiras, como quem toma café. Mas
o filme de Mirabeau é didático sem ser chato, exatamente como o seu objeto,
conseguindo infiltrar em nós as noções mais complicadas da estética, da
literatura e, obviamente, do cinema, sem nos fazer bocejar.
Minha mulher saiu da sessão
dizendo que tinha assistido a um curso completo de cinema em menos de duas
horas. Concordo com ela. Pelo menos uma coisa eu garanto: nunca mais vou ter
dúvidas sobre o significado de diegese. E não se espantem quando me virem usar
o conceito em uma de minhas crônicas. Será minha forma particular de pagar o
dízimo à Igreja Batista e mostrar que não sou tão mau aluno assim.
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