Acordei com um presságio de que
alguma coisa má me aguardava no lado da vigília. À medida em que tomava posse
dos sentidos, o presságio deu lugar à certeza: uma coisa má havia acontecido.
Meu dia começaria com menos um.
Tem sido assim, de uns tempos pra
cá. O tecido antes íntegro dos afetos vai a cada dia se esgarçando, criando
furos. Menos um, menos um, menos um. “O homem é a soma dos seus mortos”, eu
mesmo disse em um poema antigo. Mas, acrescento agora, esta soma se alimenta da
diminuição dos nossos vivos.
Esse um de menos de hoje é Jade r Nunes dde Oliveira, amigo de muito tempo, desde meus
primeiros anos como professor da UFPB. Nas nossas greves no tempo da ditadura,
era sua voz segura que nos apontava os caminhos da luta. Corrigia meus textos
para os editoriais do boletim de greve e se deleitava com alguns achados que
tornavam menos áspera a leitura nas assembleias.
Mais tarde, nos encontramos na
tarefa árdua de reconstruir a Universidade a partir dos escombros deixados pela
rapina e incúria dos nossos antecessores. Primeiro, como Pró-reitor de
administração, depois, em dois mandatos como Reitor, sua obstinação pelo
trabalho bem feito, sua intransigência contra a dilapidação do bem público
deixaram seu nome na história da Instituição e na mira dos seus inimigos.
Vou ficar sem saber o que fazia
no momento em que foi fulminado pelo enfarto. Tenho apenas a certeza de que, de
hoje em diante, sua falta será acrescida a esta sensação dolorosa de menos um.
Até que um dia eu mesmo seja um de menos.
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