Fugu é o nome que recebe no Japão
o nosso prosaico baiacu. Um peixe extremamente venenoso que se transforma em
iguaria rara nas mãos de raros cozinheiros que passam anos aprimorando a
técnica do seu preparo. Os cozinheiros mais experientes não tiram todo o veneno
do peixe. Sabem que, em porções mínimas, o veneno do fugu não mata. Acende a
paixão dos comensais.
Fugu é o pseudônimo da autora de
“Duas bocas – histórias de comida e sexo”, publicado pela Nova Fronteira em
2011. É também o codinome pelo qual se chamam os dois amantes que compartilham
cama e mesa nas 35 histórias do livro, cada uma acompanhada de uma receita
testada pela autora.
Neste tempo de pornográficos tons
de cinza, é um prazer – um verdadeiro prazer – ter nas mãos as variações de
todas as cores do erotismo em um livro que respeita a nossa inteligência e
alimenta nossa sensibilidade.
A orelha do livro nos informa que
o uso de pseudônimos é “tradição entre os que falam dos prazeres do corpo”. É
bobagem, portanto, pensar que o pseudônimo serve para esconder. Despido do seu
próprio nome, o autor, “nu, sem história, sem signo no zodíaco nem CPF,
consegue atingir a liberdade que só os seres imaginários possuem”.
Seres imaginários nos tornamos
nós, os leitores, imersos em nossos próprios corpos, guiados pelas palavras da
autora em direção a lugares estranhos do nosso corpo, onde pulsam desejos que
relutamos em aceitar como nossos.
“Duas bocas” é um livro tratado
por mãos experientes que deixam no texto a porção exata de erotismo para que
não nos afoguemos em nosso próprio desejo. Porção sabiamente conservada no
corpo do texto, suficiente para sentirmos em nossa própria boca o dilúvio que
antecede a posse do corpo amado.
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