O poeta é aquele que está sempre aprendendo a falar. É por isso que todos nós somos poetas. O ‘infans’, que em latim significa o sem palavra, vive desde e para sempre dentro de nós. Somos todos morada de um eterno infantil. Carregamos um estranho infante em nossas entranhas. Uma criança estrangeira ávida de palavras com que habite o país da linguagem. Um núcleo infantil que tentamos esvaziar com as palavras, mas que se renova a todo instante, insatisfeito com a matéria que lhe ofertamos. Somos eternos famintos de poesia.
Nascemos imersos na linguagem, mas a linguagem dos primórdios é um grande enigma depositado em nós por esse outro que nos fala e só aos poucos aprendemos a traduzir. Não entendemos, de saída, as palavras. Mas somos desde logo envoltos em sons, imagens, odores e gestos aos quais, aos poucos, serão adicionadas as palavras com as quais as identificaremos. A complexidade da fala dos adultos, entretanto, deixará muitas falhas na compreensão das mensagens pelo aprendiz da palavra. Haverá sempre um resto destes sons, cheiros, gestos e cenas primordiais que fazem permanecer o infante em nós.
Como ensina o poeta Carlos: precisamos
sempre aprender novas palavras e tornar outras mais belas para dar vazão aos
enigmas que restam e instigam, exigindo tradução. A tarefa do escritor, nos diz
Proust, é a tarefa do tradutor. Para escrever o livro essencial que existe em
nós, acrescenta, o escritor não precisa inventá-lo. Precisa apenas
traduzi-lo.
A função do
poeta é fornecer novas palavras que facilitem este trabalho tradutivo. É função
de todos nós ofertar a palavra poética a um número cada vez maior de falantes,
para que todos, ricos de novos sentidos, possamos dar a este infante, que ri e
chora em cada um de nós, as palavras que nos faltam para nomear as origens
deste riso e deste pranto.
Imagem obtida em: araucaria.pr.gov.br