Foi muito mal para mim não ter
escrito logo sobre tudo que senti ao ler
o romance de Marília Arnaud, Suíte de silêncios.
Deixei o tempo passar para ir decantando meus sentimentos, pois todo mundo
sabe o quanto é difícil escrever sobre qualquer coisa quando estamos dominados
pela emoção.
Acontece que demorei demais. Tempo
suficiente para vir o João Batista Brito e fazer o comentário definitivo sobre
o livro de Marília. Resta muito pouco para mim, mas vou tentar assim mesmo.
Li a Suíte de silêncios no original, a pedido de Marília, quando o livro
já estava sendo editado pela Rocco. Qualquer comentário que fizesse seria
inútil, pois àquela altura os revisores já estariam triturando o texto em busca
do menor deslize da autora. Trabalho inútil, por certo.
Inútil também teria sido qualquer
intenção minha em encontrar o menor defeito no livro de Marília. Pois não eram
olhos profissionais que o estavam lendo. Eram os olhos de um leitor comum,
seduzido, apaixonado por aquela escrita de mulher. Olhos comovidos,
compassivos, cuidando para que Duína chegasse inteira ao fim do livro para que
eu o pudesse fechar em paz.
Quando o livro saiu, Marília me deu
um exemplar que ficou exposto na mesa como a obra de arte que verdadeiramente
é. Uma amiga que passava o fim de semana com a gente vinha comentar, chorando,
algumas passagens, como se ainda não o tivéssemos lido. Ali estava a prova do
valor poético do livro de Marília.
Pouca gente sabe, mas faço parte do
grupo das Escritoras Suicidas, sob um pseudônimo que, obviamente, não vou
revelar. Acho muito bom este exercício de me colocar no lugar desse ser tão
próximo e tão estranho a mim. Mas quando encontro um texto como a Suíte de silêncios, em que uma mulher se
revela enquanto se busca em seus ermos, vejo o quanto me falta para entender o
espírito feminino.
O livro de Marília me deixou (por um
breve tempo) com vontade de ser mulher.