Há quatro anos atrás, por essa época, na frente da minha casa tinha uma faixa bonita dizendo que todos ali votavam em certo candidato. Botei adesivo no carro, comprei boné, camisa e chaveiro para a família toda. Não escondia minha esperança de que, a partir daquela eleição presidencial, meu País não seria o mesmo. Era isto que me diziam as ruas. Era isto que o coração me assegurava.
Bem feito. Quem mandou pensar que política se faz com o coração? Política é cálculo, astúcia, estratégias para galgar o poder a qualquer custo. Foi isto que apenas constatei, pois já sabia. Mas não custava nada nutrir a esperança de que daquela vez poderia ser diferente.
Eu vivo de sonhos. Dos meus e dos alheios. Por isto sonhei, junto com milhões de brasileiros, o sonho coletivo de que seria possível construir um país justo, em que finalmente se conviveria numa sociedade verdadeiramente democrática.
Como de todo sonho, deste também acordamos. O que não esperávamos - pelo menos eu não esperava - era o enorme contraste entre o sonho e a realidade perversa que nos aguardava abrir os olhos. A bem dizer, acordei com o barulho do abrir e fechar das portas e gavetas do meu quarto por homens ávidos em levar tudo o que lá encontrassem enquanto eu sonhava.
Hoje, de olhos bem abertos, luto para que nenhuma sedução me bote pra dormir. Para que nenhuma promessa ponha em marcha minha propensão natural aos grandes sonhos. Tiro meu título da gaveta com mão firme, sem nenhuma emoção. Vou sair de casa de cara séria e passos lentos. Vou entrar na sessão sem trocar olhares de esperança com os outros eleitores. Vou apertar uns tantos números ligados a nomes que me dizem muito pouco. Apenas que não há mais tempo para os sonhos. Temos que encarar este País com olhos secos. A cru.