Ela é
conhecida como Dama da Noite. Uma for bela e perfumada que começa a se abrir no
início da noite, atinge seu esplendor com a noite já alta e amanhece murcha no
outro dia. Algumas poucas vezes de um só pé florescem muitas delas. Já foram
contadas mais de vinte na casa de uma amiga. Na minha casa, o máximo que
conseguimos foi dezoito numa só noite. Mas o encantamento maior acontece quando
apenas uma flor anuncia que vai desabrochar. Esperamos a noite com certa
ansiedade e no mínimo uma garrafa de vinho.
Pra que tanta
reverência, pode estar perguntando você que me lê, com uma flor que não vai
durar mais que uma noite, que amanhecerá murcha e sem graça, fazendo-nos
lembrar da transitoriedade de tudo o que agora é jovem e bonito.
Acho que é
justamente aí que reside o encanto da Dama da Noite. Vê-la em todo o seu
esplendor nos obriga a fruir sua beleza com toda a intensidade possível, pois
sabemos que daqui a pouco iremos perdê-la. Este sentimento de fruição estética
se intensifica por conta da mescla com esse luto antecipado, essa certeza de
que daqui a pouco o objeto do nosso deleite não estará mais aí.
Pensando bem,
não apenas a Dama da Noite é transitória. Todo o mundo à nossa volta sofre da
mesma transitoriedade. Nós é que nos iludimos com a crença de que o mundo e nós
somos eternos. Precisamos dessa crença, pois nos custa muito nos acostumarmos
com a nossa condição de passageiros neste planeta que também está de passagem. É
difícil aceitar que um belo dia a nossa querida Via Láctea vai se chocar com
Andrômeda, a nossa galáxia vizinha, e tudo sumirá pelo ralo de um buraco negro.
Muito difícil também é nos acostumarmos com a ideia bem mais prosaica de que
vivemos num mundo completamente diferente daquele que nos legaram nossos pais. Há
uma descontinuidade gritante entre o mundo que emergiu da segunda grande guerra
e este que emerge disto que chamamos de pós- modernidade.
O mundo não é
o mesmo, o ser humano não é o mesmo. Nossas esperanças de viver num mundo
solidário e pacífico perdem paulatinamente seus fundamentos. Somos todos
efêmeros, como a Dama da Noite que ontem nos mostrou sua beleza. Tentemos pelo
menos ser bons e belos em nossa pobre transitoriedade.