Estou
com um problema sério. Minha mulher está com um olho roxo, fruto de uma queda
no banheiro da casa de uma de nossas filhas. E este é justamente o meu
problema. Quem não me conhece direito vai pensar que fui eu que tingi o olho
dela de roxo. E a coisa pode piorar quando ela explicar que caiu no banheiro.
Toda mulher que aparece de olho roxo por conta do marido, diz que levou uma
queda no banheiro. Já sugeri que ela usasse uma camiseta com a frase: “não foi
meu marido”. Mas aí, podem pensar que fui eu que a obriguei a usar a camisa.
Nunca
convivi tão de perto com um olho roxo. E confesso que é uma experiência
incômoda. Além do mal-estar estético que causa, o olho roxo é o símbolo
universal da violência. Nos filmes, nas histórias em quadrinhos, quando se quer
mostrar que um personagem levou uma surra, ele aparece com uma mancha roxa ao
redor de um olho.
De
uns tempos pra cá, o olho roxo tem servido para denunciar a violência contra a
mulher. As marcas da brutalidade podem se espalhar por todo o corpo, mas é o
hematoma no rosto que demonstra, na forma mais dramática, a covardia do
agressor.
Nas
ruas de junho, a repórter Giuliana Vallone foi atingida no rosto por uma bala
de borracha. O seu olho roxo virou símbolo da campanha “Muda Brasil”, o que
inspirou o fotógrafo Yuri Sardenberg a fotografar uma galeria de famosos maquilados
com um olho roxo como parte de um protesto contra a violência policial.
A
quem interessar, comunico que o olho de minha mulher já começa a voltar ao
normal. É um olho roxo prosaico que causou alguma dor e um pouco de preocupação.
Mas serviu para lembrar dos muitos outros olhos roxos que ficarão marcados para
sempre na memória das vítimas da violência, que ainda protegem seus algozes com
a mentira da queda no banheiro.
Imagem
da cantora Alinne Rosa, participante da campanha “Dói em todos nós”, obtida em WWW.bahianamidia.com.br