Eu tinha uns doze anos de idade e
minha cabeça de menino já ficava confusa com as coisas que assistia nos
comícios do Recife. Cid Sampaio, usineiro candidato ao Governo de Pernambuco,
recebia, na carroceria de caminhão que servia de palanque, o apoio de Luís
Carlos Prestes, o célebre líder comunista.
Não vou desfiar aqui a lista
interminável de conchavos políticos que assisti ao longo de minha já longa
vida. Um só deles me serve de exemplo emblemático. Trabalhava numa agência de
propaganda encarregada da campanha do MDB em Caruaru, lá pelos anos 70.
Estávamos na casa de um dos próceres do partido, esperando que “ele” chegasse
para começar a reunião. Passava da meia-noite, quando “ele” chegou. Era
justamente o adversário do nosso candidato, disposto a negociar os votos de
alguns dos seus currais, já que se considerava antecipadamente derrotado.
Pensava que já tinha visto de
tudo neste mundo, quando fui insultado pela mais infame das alianças políticas
que jamais esperava testemunhar: Lula buscando o apoio de Maluf numa tentativa
desesperada de fazer o PT ganhar a eleição municipal em São Paulo.
E aqui, dentro de casa, me causa
nojo a fúria com que antigos aliados demitem seus companheiros de ontem como
retaliação à ruptura de acordos
Sempre que escolho um candidato
para votar, renovo minhas esperanças de que ele tenha coragem para romper o
círculo vicioso dos conchavos para atingir o poder. Espero mesmo que ele esteja
disposto a perder a eleição, desde que a campanha sirva para implantar na consciência
dos eleitores novos valores éticos. Para tanto, é preciso coragem para romper
com os velhos padrões de conchavo e corrupção.
Coragem para ultrapassar este
tempo de miséria política, colocando definitivamente em primeiro plano os interesses
dos cidadãos que pagam os seus salários. É só isto que espero dos políticos em
que voto.