Acontece que eles estavam numa feira agropecuária no interior de São Paulo. Lugar de macho. E logo um bando de machos se aproximou perguntando se eles eram gays. Quando souberam que eram pai e filho, os machos se afastaram para voltar logo depois com um grupo maior de machos. O bando então passou a agredir os dois com socos e pontapés. O filho sofreu ferimentos leves. O pai teve uma orelha decepada a dentadas.
Eis um sinal destes tempos. Por um lado, vários segmentos da sociedade avançam com a adoção de medidas acolhedoras das mais diversas formas de comportamento. Por outro lado, alguns segmentos fecham o círculo da intolerância à diversidade, chegando ao absurdo de condenar uma expressão pública de carinho entre pai e filho.
É com alegria que vejo a cada ano aumentar o número de participantes das paradas gays nos mais diversos cantos do mundo. Recebo como um ato civilizatório a legalização dos casamentos homoeróticos, assim como a adoção de filhos por casais homossexuais. A flexibilização dos dispositivos legais está fazendo com que um número crescente de casais do mesmo gênero se exponha nos lugares públicos, usufruindo livremente de sua cidadania.
Recusar a diferença, já sabemos, é não aceitar no outro aquilo que rejeitamos em nós. Daí o ódio aos homossexuais, às mulheres, aos negros e aos adeptos de crenças diferentes das nossas. Mas o que me impressiona no caso da feira do interior paulista é a não aceitação de qualquer manifestação pública de carinho. Um abraço entre dois homens é uma ameaça à moral fundamentalista do machismo. Mesmo que seja um abraço entre dois amigos. Ou entre um filho e um pai.