Um homem morava com sua filha em Los Angeles. Ele tinha problemas mentais, e sua filha, provavelmente, também, pois adotou uma ratazana grávida como bicho de estimação. Com o tempo, aconteceu o inevitável: os filhotes se reproduziram como ratos e praticamente consumiram a casa do homem e da menina.
Neste ponto, entra na história a North Star Rescue, uma ONG dedicada à proteção dos animais. Pois é. A entidade fez isto mesmo que você está pensando. Recolheram os pobres animais sem teto em um enorme galpão e foram procurar lares adotivos para cerca de mil roedores. Se você não tiver um lugar confortável para instalar um casal destes amáveis bichinhos, pode mandar doações de alimentos. A ONG sugere que você envie cereais saudáveis que serão misturados com comidas para rato, macarrão, frutas secas e soja.
Não consigo distinguir a ironia embutida na notícia. Por um lado, a ONG pode estar querendo por a nu a nossa hipocrisia patente na predileção afetiva a certos animais (gatos, cachorros e mesmo os hamsters, primos sofisticados dos gabirus) enquanto outras espécies, como ratos, sapos, cobras e morcegos, são reservados ao nojo e à violência dos humanos.
Por outro lado, todo o episódio talvez venha revelar a falta de interesse que a mídia e a piedade humana dispensam a certas situações de desamparo. A notícia, publicada pela BBC, não traz nenhuma referência à intervenção de qualquer entidade, governamental ou não- governamental, em favor do pai e da filha que perderam a casa. Se não fosse a insólita intervenção da ONG, continuariam lá, no esquecimento reservado aos loucos, aos pobres, aos desabrigados.